A presença d'Ele revelada no olhar de quem nos chama de volta…
Ontem, trocando impressões com uma querida amiga pelas redes sociais, relembramos nosso caminho na fé. Sua filha, que antes era uma jovenzinha entrando na puberdade, hoje é uma bela mulher. Seguimos nossas jornadas, participamos de celebrações, buscando uma “vida plena”, cada uma cumprindo suas etapas.
Em dado momento, ela me disse:
“Maria Ângela, sinto saudades de você. Por que não vem participar de uma celebração conosco, uma Eucaristia?”
Meus olhos marejaram. É emocionante saber que alguém sente falta da nossa presença. Pensei comigo:
“Jesus, que cruz é essa que me imponho?”
Ela se referia ao caminho neocatecumenal, do qual estou em modo "pause" há algum tempo — como já fiz outras vezes, movida por minhas insatisfações, inconstâncias e buscas incessantes. Em cada recomeço, me pergunto: o que procuro?
No fundo, sei bem a resposta: destinos não cumpridos, um vazio que não se preenche, um direito de ser e fazer que se perde no tempo. Novos acontecimentos me arrastam e me abraçam, e assim a vida segue, deixando o passado para trás.
Embora não seja Semana Santa, para mim parece ser — atravesso dores profundas, paixões incontidas. E, enquanto passo por meus “campos santos”, percebo que, sozinha, tudo se torna mais lento e difícil.
Hoje, lembrei-me de um canto milenar, um alerta para mim e para os povos dos últimos tempos:
“Ai de ti, Betsaida; ai de ti, Corozaim.”
Este pensamento reflete o desejo do bem em nosso meio. Encoraja-nos a refazer caminhos, renovar esperanças e abraçar oportunidades de vida.
Com ele, inicio esta manhã, desejando-lhe um bom dia. A vida germina, incontestavelmente, e nos chama a construir o futuro, que já começou.
Reflito sobre todos os que foram perseguidos e crucificados ao longo da História — assim como sobre nossos sofrimentos cotidianos: lutas internas, incertezas, intemperanças, buscas incessantes por verdades incompletas, perdas de entes queridos.
Segundo Santo Agostinho, eles seguem conosco, apenas mudando para uma via paralela. Essa certeza consola — mas nem todos a têm. Afinal, são mistérios de Deus, que inevitavelmente doem.
Que essa dor nos converta. Que nos transforme para melhor, desperte-nos e amadureça nossos corações, como os frutos em suas estações.
Se não for assim, como veremos o Crucificado? Aquele que, após três dias, se apresentou em corpo, espírito e pensamento?
A dor não deveria existir. Mas dói.
Dói também pela desumanidade e pelo medo que tingem o mundo com cores sem beleza.
E, diante da miséria humana que atormenta milhões de seres criados para a felicidade, não podemos permanecer indiferentes.
Ainda assim, muitos permanecem cegos à verdade que se descortina… mas não se vê.
Na esperança de que a vida se humanize, rogo para que as bem-aventuranças, como no Sermão da Montanha, prevaleçam como verdadeira justiça.
— MângelaCastro, 10/06/2025