Estava eu serena, olhando para um céu que começava ficar alaranjado, um por do sol estonteante, trás os montes, nada diferente, não fossem os pensamentos a iniciarem um voo alto e circular, e quando isto acontece nada nos pode deter: pensamento e eu...
E esta foi a forma que encontrei para o auxilio d'minha alma em pleno desenvolvimento, escrever, escrever, até o anoitecer fumegante de dias muito quentes...
Por que não escolhi a livre expressão de fazer acontecer algo de bom na vida, através da fala, ao contrário das escritas, pessoas gostam de falar, falar, e sempre que isto faço, sou calada por alguma forma ou outra, então escolhi escrever, porque as palavras se desfazem aos ventos, perdem seu sentido de ser, dissolvem-se na memória, enquanto as escritas, ficam expressas para sempre, tornando-se nossas guias de luz, por onde passam, elas vivem, se regeneram, se rebuscam e não morrem, podem ser continuamente reeditadas.
Ao lembrar de alguma passagem, corremos a pegar uma carta guardada por anos em uma gaveta, trazendo em suas palavras uma mensagem de vida, ou nos socorremos com um livro, mesmo já com páginas amarelecidas, cheirando a mofo, mas é uma preciosidade, um tesouro escondido no tempo, e passamos horas a fio detidos em suas reflexões
Mas como nem tudo é bom, e esclarecedor, descortina-se uma variada gama de ensinamentos que podem nos machucar a alma, faz-se doer até o infinito, ou nos fazer imensamente felizes, quando nos percebemos que já não somos mais como antigamente, já entardecemos no tempo, e estamos lentamente nos desfazendo, mas algo dá uma conotação de naturalidade. Sim, tudo o que nos acontece, é de verdade, é um rugir de trovoes avassaladores, mas reais em nossas vidas.
O que temos certeza nesse voo circular que todos podemos fazer, é que somos humanos, não temos asas sobressalentes, mas somos desejosos de voar alto, extravasar nossas emoções, e por alguns instantes nos sentirmos pássaros!
E é ali que está, o princípio da renovação interior, da transformação do ser, tal qual a borboleta ainda um corpo estranho preso em seu casulo, sendo afetado pelas intempéries do tempo, se transformando, se tornando forte, resiliente, poderosa, para depois com seu voo alto e circular alcançar o céu de infinitude, a partir daí, nada a detém, ser borboleta...
É ela sendo chamada ao serviço reparador, beijando as flores, soprando as relvas com seu revoar, e ao mesmo tempo, sendo alimento de si mesma, um fazedouro de vidas constantes, perdidas por um tempo, solta aos ventos...
Em verdade, em verdade, somos instrumentos reais nas Mãos de D'eus, que vida se nos oferece, todo o tempo, para nosso refazimento através das transformações que sofremos dentro de nós mesmos, somos portanto partícipes da lei universal do Criador, sendo com ele cocriadores, tais como as borboletas, que no seu tempo próprio, fazem um circulo alto, sobrevoando as flores, se acasalam, botam ovos e morrem, mas sua geração continua o fluxo da vida eterna, uma dinâmica constante e perfeita.
Fonte Divina, inesgotável de luz e cores, encontrando o caminho que leva a seguir a um voo alto e circular, a infinitude, sendo todos, nessa diversidade milagrosa, orantes com nossa forma simples de sermos entrelaçados no amor misericordioso, neste cotidiano perfeito... Nascer, viver, aprender, tornar-se sábio, doar gerações e depois partir....
Levanta-te, resplandece-te, porque já vem a tua luz,
e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti. Isaías 60:1
By MângelaCastro - 25/09/2023